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‘Beleza interior’: seria uma desculpa para te chamar de feia?

Já reparou que quando alguém dá muito destaque à beleza interior de uma pessoa, na verdade, ela nem considera essa pessoa tão bonita assim?

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Uma busca rápida no Google pelo termo “beleza interior” e, entre os diferentes resultados, frases sobre como é importante valorizar o que o ser humano é por dentro, em vez de focar na aparência, são as mais comuns. Mas se você digitar apenas “beleza”, essas frases motivacionais dão lugar a truques de famosas para cuidar da pele e do cabelo, além de produtos que prometem valorizar os atributos físicos.

Existe diferença entre beleza interior e beleza exterior?

Por que existe diferença entre a beleza que está “por dentro” e a que está por fora? Já reparou que quando alguém dá muito destaque à beleza interior de uma pessoa, na verdade, ela nem considera essa pessoa tão bonita assim? Seria a beleza interior apenas uma desculpa para chamar alguém de feia? Bora falar sobre isso!

Não é dizer que alguém é lindo sem conhecer

Se você não conhece ou nunca conversou com uma pessoa, mas diz que ela é linda, certamente não está se referindo à personalidade ou ao que ela é “por dentro”. E tudo bem, não tem problema em achar alguém bonito à primeira vista. No entanto, fica aqui a reflexão: o contrário é válido? Porque dificilmente alguém diz logo de cara que uma pessoa é linda pelo seu jeito de ser, se ela não corresponde às expectativas de beleza, né?

Beleza interior, beleza negra, “bonita de rosto”… Por que tantos rótulos para um único termo? 

Dizem que beleza é relativa mas, na prática, esse argumento não funciona tanto assim. Isso porque um único termo pode ter inúmeras especificações e rótulos. Você já deve ter escutado sobre “beleza negra”, mas já ouviu alguém dizer “beleza branca”, por exemplo? Pessoas magras não escutam o quanto são “bonitas de rosto”, mas pessoas gordas sabem bem o que isso significa. Mirou no elogio, acertou no preconceito.

Seria apenas uma forma de compensação?

Se a beleza precisa de tantos termos para ser definida, a expressão “beleza interior” é associada a uma forma de compensação, quase como um prêmio de consolação. Afinal, se uma pessoa não for tão bonita assim, mas tem um bom caráter, o que importa é a beleza interior, certo? Sim, claro, mas uma coisa não precisa excluir – e muito menos compensar – a outra. A beleza interior não precisa ser usada como desculpa: ser uma pessoa boa é o mínimo. 

“Quem gosta de beleza interior é decorador” e mais desculpas que reforçam padrões

Em “Receita de Mulher”, poesia escrita em 1959, fica fácil entender que Vinícius de Moraes não estava interessado na beleza interior da sua musa inspiradora. Isso porque, ao longo dos versos, entre expressões como “é preciso”, “que seja”, “ela deve”, ou a mais conhecida “as muito feias que me perdoem”, o autor reforça apenas características físicas que ele e “o olhar dos homens” consideram bonitas em uma mulher. 

Frases populares como “Quem gosta de beleza interior é decorador” reforçam esse padrão, mostrando que, por mais importância que tenha a essência do ser humano, a tal beleza interior fica em segundo plano na fila do padrão. 

A beleza interior é ou não uma desculpa para te chamar de feia?

Sendo assim, a beleza interior é apenas uma desculpa para chamar alguém de feia? É possível que sim, mas isso não diminui a sua importância. Se existem recursos que podem mudar a aparência externa, não é tão simples construir ou desconstruir o caráter e a personalidade de alguém. A beleza pode ser única, desde que ela não exclua ninguém.

Foto de capa: Adobe Stock

Redação Corpo Livre

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