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Corrida e #CorpoLivre: como virei a chave e passei a amar me exercitar?

Para Isadora Chiquetto, a corrida foi o primeiro passo para amar se exercitar e ter um #CorpoLivre da depressão e do transtorno alimentar. Leia mais na coluna!

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Exercício físico sempre foi sinônimo de emagrecimento pra mim. Durante uns 10 anos, eu fui a maluca da academia, que ia 6 vezes na semana fazer musculação e só tinha um objetivo: emagrecer. No entanto, junto com a compulsão por academia, existia também o transtorno alimentar. E o ciclo era nocivo: dieta restritiva – emagrecimento – compulsão – ganho de peso. Essa sempre foi uma regra na minha vida. Até eu me apaixonar pela corrida.

Tudo começou há uns anos, quando tive um grande problema familiar que abalou muito minha saúde mental, que culminou em um princípio de depressão. Por isso, nesse período, eu não tinha controle sobre minhas emoções e comi descontroladamente por meses a fio. Isso fez com que engordasse mais de 20kg em um período muito curto. 

“Primeiro iria me exercitar e depois iria pensar em outra coisa”

Esse ganho de peso muito rápido trouxe consigo consequências para minha saúde. Entre elas, pré-diabetes, colesterol altíssimo e desencadeou o hipotireoidismo (doença em que a glândula tireoide não é capaz de produzir a quantidade suficiente de hormônio no corpo).

Em uma consulta ao médico, ele foi categórico: ou eu me comprometia a me exercitar pelo menos meia hora, 5 vezes na semana, ou teríamos que iniciar um tratamento para a pré-diabetes (um tratamento caro e com vários efeitos colaterais).

Por isso, nesse momento, decidi virar a chave. Primeiro iria me exercitar e depois iria pensar em qualquer outra coisa. Eu iria comer o que tivesse que comer, sem pensar em emagrecer, sem restringir nada e só focaria em sair de casa e me exercitar.

Mas, sempre que tentava iniciar uma atividade, ela sempre era acompanhada de uma necessidade de uma grande mudança: vou à academia todos os dias, vou fazer uma dieta radical, vou limpar a casa, vou guardar dinheiro, etc. Tudo de uma vez. Assim, dessa vez, decidi me comprometer só com isso. Só me exercitar, o resto eu iria ver depois.

Focando somente nos exercícios físicos: o início da corrida

Então comecei a fazer caminhadas pequenas, de 15 a 20 minutos. Lembre-se, eu estava com depressão, então colocar uma roupa e sair de casa já era um esforço enorme. Aos poucos, comecei a tentar correr um pouco. Quando digo pouco, era bem pouco mesmo. Eu corria 30 segundos e caminhava 2 minutos e meio, corria mais 30 segundos e caminhava mais 2 minutos e meio, até completar os 20 minutos de exercício.

Fui aumentando a duração total da atividade de 20 pra 30 minutos e logo comecei a diminuir os intervalos de caminhada e aumentar os de corrida. Cada dia era um desafio diferente e isso estava fazendo eu querer sair de casa para, pelo menos, tentar ir melhorando.

Depois de cerca de 1 mês fazendo isso, já conseguia correr intervalos constantes e resolvi me inscrever para uma corrida de rua no mês seguinte. Assim, eu teria um mês pra me preparar e correr 5k.

Nesse segundo mês, fiquei cada vez mais animada e evolui mais e mais, até que já conseguia correr os 5k com tranquilidade. Foi aí que percebi que comprei a inscrição errada da corrida. Sem querer tinha comprado a corrida de 10k. Então, em menos de 15 dias, eu iria ter que correr a maior distância da minha vida. Um desafio que sempre tentei, mas nunca consegui bater.

“A corrida me deixava mais calma e eu não pensava mais em comer o tempo todo”

Chegando o dia da corrida, percebi que mesmo se não conseguisse cruzar a linha dos 10k correndo, eu estava ali pela experiência e isso já valia muito. Afinal, já eram 2 meses em que estava correndo porque gostava daquilo e não porque queria emagrecer.

Sim, havia emagrecido um pouquinho e minha compulsão alimentar estava se controlando aos poucos. A própria corrida me deixava mais calma e eu não pensava mais em comer o tempo todo. Não só pelo exercício mas também pela liberdade de me alimentar que estava experimentando. 

De qualquer forma lá estava eu, no dia 30/07/2018, pronta pra correr meus primeiros 10k. 

Cruzei a linha de chegada depois de correr, caminhar, sofrer, me animar e me orgulhar. Eu era uma corredora gorda. Uma corredora apaixonada pelo esporte e sabia que dali pra frente as coisas seriam melhores. Sem pressão estética. Evolução pela evolução, desafio pelo desafio e endorfina pela endorfina.

3 anos depois…. Liberdade para me exercitar e me superar

Hoje, mais de 3 anos depois desse dia, eu continuo correndo. Fiz uma meia maratona (21k) em 2019 e, por conta da pandemia, acabei não realizando outra. Depois que peguei COVID, não consigo mais correr longas distâncias, mas descobri novos esportes que amo: yoga, surf e continuo fazendo minhas corridas de 5k, porque esse ainda é meu esporte favorito.

Mas o que mudou foi muito mais que kms rodados no tênis. Foi uma relação que finalmente se acertou, uma liberdade de me exercitar e me superar, independentemente de qualquer número que apareça na balança.

Foto de capa: Reprodução Instagram / @umacorrida

Isadora Chiquetto

Depois de anos de dietas e odiando meu corpo decidi fazer diferente: me exercitar pela saúde. Como consequência me apaixonei pela corrida e mudei a relação com a minha imagem.

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