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Hugo Vasconcelos: Gays são capazes de amar?

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Gays são capazes de amar

Calma, existe amor entre gays na comunidade. Entretanto, a oferta desse amor não ocorre como a das pessoas heterossexuais. Devemos atentar aos recortes a serem feitos. Não podemos tentar nos encaixar aos modos que tradicionalmente os casais heteronormativos se relacionam e tentar reproduzir esses padrões dentro dos nossos amores. Vale salientar que nossa forma de amar, inclusive, todos os dias, é invalidada por eles.

Primeiramente, nosso ponto de partida deve ser o de entender como começamos a nos relacionar dentro da sociedade que estamos inseridos. Ou seja, precisamos relembrar que fomos podados de vivenciar nossa sexualidade na puberdade, diferentemente dos meninos que se apaixonavam por meninas.

O fato é que tivemos que reprimir nossos desejos. Escondê-los.

Por exemplo, corríamos o risco de sermos descobertos por nossas famílias, amigos e, claro, nossa querida e tradicional sociedade, que sempre estava à espreita para garantir que sentíssemos dor pelo nosso desejo em amar.

Devido a essas questões, realmente poder experienciar os nossos desejos foi algo que deixamos para mais tarde. Esperamos, crescemos, começamos a frequentar a noite e termos nossa liberdade financeira, assim poderíamos finalmente viver nossas afetividades. Entretanto, diante da vivência homoafetiva reprimida nas fases de desenvolvimento, não pudemos contar com a mesma vivência sexual que os homens heterossexuais já haviam construído – eles viveram essa experiência adjunto à puberdade, com toda liberdade e incentivo a isso. A necessidade de mostrar o corpo para ser quisto. A vontade de viver loucuras. As noites de sexo para matar o tesão.

Gays também querem ser preenchidos por amor

Com o tempo a casualidade se torna vazia. A rotina gera cansaço. As baladas não são mais interessantes. E o sexo, por fazer, dá preguiça. As prioridades mudaram, e aos 24, 27… 30 anos estar à procura de um parceiro. Essa é a virada da chave. Nós, gays, queremos ser preenchidos por amor. Nos questionamos se seremos a única pessoa no mundo incapaz de ser amado. Esse é o momento do contragolpe, que dói. Você começa a falar que não existe amor entre dois homens, que eles não sabem amar.

Se você chegou até aqui, precisamos falar sobre hábitos. Fica tranquilo, não vou te julgar.

Quando gays começam a experenciar a sexualidade, querem vivencia-la de forma avassaladora para provar a eles mesmos e ao mundo que não existe nada de errado nisso. Em outras palavras, sentimos raiva de termos sido reprimidos e queremos fazer tudo que foi embutido como um pecado. Eu não posso apontar o dedo para ninguém porque eu fiz tudo isso, de transar com o filho do pastor para mostrar que tudo aquilo era uma farsa, a coisas que nem me recordo de ter feito por estar completamente bêbado. Não me arrependo, foi necessário para mim descontar todo o ódio que seu sentia da hipocrisia.

Em contrapartida, se você está em busca de sorrir lembrando de alguém, de não ter vergonha de ser quem realmente é, de viver a reciprocidade e dentre outras coisas que julga ser importante para ter alguém ao seu lado, mudar é necessário.

E isso não significa deixar de ser você, ou deixar de fazer coisas que te fazem bem.

É apenas deixar de fazer as coisas que faz no automático, que nem sente mais vontade porque a raiva passou e aquilo não tem contempla mais. A frase “mesmas atitudes, mesmos resultados” é real.

Então, se não sente mais prazer em ir na balada e ficar com caras que não sabe nem o primeiro nome, pare. Além disso, se o aplicativo que te faz encontrar um cara para transar em meia hora te faz arrepender de tê-lo chamado após gozar, desinstale. Basta apenas entender o que você fez que se tornou vazio e deixar de fazer. Isso é se respeitar e entender que mudamos a cada dia. Podemos mudar e adquirir novos costumes.

Um ponto muito importante desse processo é entender quantas possibilidades você dá ao amor.

Há uma tendência entre gays em querer se relacionar apenas com um tipo de corpo, tamanho e raça. Com toda a certeza precisamos parar de construir barreiras e de reprimir nos mesmos. Somos plurais, permita-se explorar a nossa pluralidade.

Ah, só para ilustrar, o homem perfeito não existe – desconstruir essa imagem é necessário. Essencial nos atentarmos que humanos são humanos que vem carregados de histórico – ainda bem. Isso nos torna únicos, faz com que tenhamos camadas e isso nos torna interessantes. A dor é parte da história. Seja como for, entender as vulnerabilidades e perceber os cuidados que o próximo precisa é amor. Se conhece alguém como poucos e mesmo assim seu desejo é fazê-lo melhor a cada dia, entenda que está amando.

Você é o cara certo para alguém, exatamente da forma que você é. Não existe uma cartilha de como ser digno de ser amado. Por isso, em algum momento alguém com hábitos parecidos aos seus te encontra, irão conversar e se surpreender em como tem pontos em comum, disso vão rir é perceber quantas interseções existem um com o outro. Vão construir intimidade e isso vai ofertar tudo aquilo que querem sentir com um outro alguém.

Mas pare, de uma vez por todas, de insensatamente querer alguém. Isso não se busca, ele acontece.

O que pode fazer é dar tempo ao tempo, se respeitar, construir o amor por si próprio. Acima de tudo, esteja aberto a vivenciar e realmente conhecer as pessoas com intimidade, se mostre vulnerável, não esteja com alguém que, para se tornar interessante, tenha que performar alguém que você não é.

Por fim, tudo acontece no momento que deve acontecer, para isso, se ame para ser amado no momento certo.

Hugo Vasconcelos

Prazer, me chamo Hugo. Sou Ativista Social em busca pela implementação e proteção dos Direitos Humanos. Fundador do coletivo Pride, em parceria com a Nações Unidas. Nesse espaço, compartilho pensamentos para mediar as nossas conversas.

Prazer, me chamo Hugo. Sou Ativista Social em busca pela implementação e proteção dos Direitos Humanos. Fundador do coletivo Pride, em parceria com a Nações Unidas. Nesse espaço, compartilho pensamentos para mediar as nossas conversas.

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