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Homem branco cis hétero: quem é esse cara e o que ele fez?

O homem branco cis hétero ocupa uma posição privilegiada na sociedade. Entender esse papel significa uma passo para torná-la mais igualitária.

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Homem branco cis hétero

Você provavelmente conhece esse personagem que vira e mexe é chamado por aí: o homem branco cis (cisgênero) hétero. Quando dizem que ele tem grande parte dos privilégios na sociedade, muita gente questiona, não entende direito ou chama de “mimimi”. Parece uma reação comum a qualquer discurso que tente provar que existem grupos mais privilegiados do que outros.

Hoje podemos dizer que vivemos em uma sociedade capitalista, heteronormativa, cisnormativa, racista, patriarcal. No entanto, antes de explicar o que o homem branco cis hétero fez e representa, é necessário entender o que essa estrutura toda significa. Vem com a gente!

Capitalismo, heteronormatividade… O que tudo isso tem a ver com esse cara? 

O capitalismo, como podemos lembrar com a matéria da Politize!, nasce no século XV, com o declínio do feudalismo, sistema vigente até o momento. Entre suas principais características, estão a propriedade privada, o acúmulo de riqueza e o lucro. Assim, nasceu a divisão entre burgueses e proletários. Ou seja, aqueles que têm dinheiro e formas de produzir ainda mais dinheiro e aqueles que trabalham para que os burgueses tenham ainda mais dinheiro. Essa dinâmica faz parte da grande maioria das relações de trabalho na nossa sociedade. 

Já a heteronormatividade pressupõe que todas as pessoas devem se encaixar em padrões heterosexuais assim que nascem. Em matéria ao Geledés, o psicólogo Gilmaro Nogueira, que pesquisa Cultura e Sexualidade pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), explica sobre o tema. “Heteronormatividade tem a ver com uma idealização de expressão de gênero. É essa obrigação de que todos se comportem como heterossexuais, tendo ou não práticas heterossexuais. Nessa ordem social, entende-se que homem tem que ser másculo, viril, e a mulher tem que ser feminina. Quem foge do padrão é marcado”, diz. 

A heterossexualidade compulsória – obrigação em ser hétero – é a raiz de diversas questões

Esse olhar para a heterossexualidade enquanto a única forma correta de estar no mundo e se relacionar é construído e fortalecido em todas as esferas políticas e sociais. Seja pela mídia, pela Igreja, pelo Estado, esse olhar está diretamente ligado a violências sofridas por pessoas não-héteros todos os dias. Aliada à expectativa heterossexual de relacionamento e comportamento, a cisnormatividade delimita que corpos cisgêneros (que se identificam com o gênero designado a eles ao nascer, por características hormonais e genitais) são a regra. 

Pode parecer confuso para uma grande parte da população, mas é simples. Por exemplo, quando alguém nasce e o médico informa aos pais que é uma menina. Se, ao crescer, a pessoa continua se identificando como menina, ela é cisgênero. Mas se isso não acontecer e, ao crescer, essa pessoa descobrir que se identifica como menino, ela é transgênero. Logo, no segundo caso, essas pessoas são vistas e tratadas como diferentes, o que alimenta o preconceito.

O racismo e a dinâmica colonizadora do homem branco cis hétero

O racismo, por sua vez, nasce na Idade Moderna como ideologia. Ela serve de argumento para a invasão e colonização europeia em demais continentes, levando a suposta civilidade a povos não-brancos. Esse discurso, aliado ao capitalismo, também constrói classes sociais e raciais, onde pessoas brancas e ricas possuem vantagens acima de pessoas que fogem dessa norma. Por isso, quando observamos o estereótipo do “negro pobre” e do “branco rico”, conseguimos ver as raízes dessa dinâmica colonizadora até hoje. 

O patriarcado é um sistema que trata homens e mulheres de formas distintas

Quando falamos de patriarcado, estamos falando de um sistema sociopolítico. Ele coloca os homens em lugar de poder, a partir de uma análise feminista que observa o apagamento histórico das mulheres ao longo dos anos. O termo pode carregar um tom muito “militante” para alguns, mas é a partir dele que conseguimos enxergar as diferenças de tratamento entre homens e mulheres na sociedade. 

Já percebeu que os grandes nomes da literatura e da história são homens? Além disso, quais grandes conquistas, invenções, artes são dominadas por homens? Será porque nenhuma mulher se propôs a fazer ou porque seus trabalhos, incentivos a realizações sempre estiveram à margem?

Tá, mas o que o homem branco cis hétero fez afinal? Falemos sobre privilégios

Entendendo todas essas estruturas, conseguimos ver que dentro da nossa sociedade temos pessoas que são privilegiadas e outras que são oprimidas por não se adequarem dentro desses moldes. Por exemplo, uma mulher branca cisgênero e heterossexual tem privilégios por ter parte da estrutura “ao seu lado”. Enquanto isso, uma mulher negra heterossexual tem menos partes da estrutura (por conta do racismo) lhe dando vantagens e privilégios. Porém, ambas estão sujeitas a sofrerem machismo, por conta do patriarcado. 

Uma coisa importante da gente lembrar é: ter privilégios não significa estar completamente isenta de sofrer preconceitos! Na verdade, o privilégio não te impede de sofrer, mas abre mais portas na sua vida do que a pessoa que não os tem.

O homem branco cis hétero é a personificação e o acúmulo desses privilégios. Isso porque todas as estruturas estão ao seu lado, lhe dando portas abertas e escancaradas ao longo da história. Esse personagem não necessariamente é o culpado pela existência de todas as opressões. Mas ele é responsável pela manutenção de cada uma delas, uma vez que não olha e questiona a estrutura que vive. 

O homem branco cis hétero tem que acabar?

Além de ter sua humanidade assegurada, livre da grande maioria das injustiças, esse homem branco cis hétero é o que mais tem poder estrutural para oprimir demais minorias. Por outro lado, quantas mulheres temos na política? Quantas pessoas negras em cargos de liderança? Qual a expectativa de vida de pessoas transsexuais? No lugar dessas pessoas, temos homens brancos cis héteros ocupando espaços e exercendo seu poder estrutural. 

Não é um movimento de culpa, mas sim de responsabilidade. O entendimento do papel dessas pessoas dentro de uma estrutura que beneficia todas elas é usar desse lugar de privilégio para tornar os espaços igualitários. Também é importante que cada pessoa que se aproxima desse ideal entenda seu lugar na sociedade, seus privilégios. Além disso, utilize-os para aumentar a diversidade dentro desses espaços. O primeiro passo é olhar ao redor e entender: quantas pessoas iguais a mim eu consigo enxergar? Quanto menos diverso for o seu entorno, mais mudanças precisam acontecer.

Foto de capa: Adobe Stock

Redação Corpo Livre

Somos uma equipe de profissionais e colaboradores empenhados em transformar através da informação e da diversidade. Enquanto veículo, queremos construir uma nova forma de dialogar na internet sobre Corpo Livre!

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