Mundo
Iza: “Não sou meu cabelo. Eu sou maior que isso”
Capa da edição digital da revista Allure, cantora Iza fala de representatividade no Brasil e defende mais espaço para mulheres negras. Veja mais da entrevista!
Iza é a estrela da edição digital da revista Allure, sua primeira capa internacional, e falou sobre a representatividade negra no Brasil. Primeiramente, a intérprete de “Pesadão” desabafou a respeito da desigualdade racial e explicou como vem usando suas plataformas para mudar a forma como as mulheres negras são retratadas pelo país. “Crescendo, nunca me vi na mídia ou em programas de TV. Eu não me vi em lugar nenhum. Eu estava invisível”, lembrou a cantora. Confira mais detalhes da publicação!
“Te tratam de maneira diferente por causa da cor da sua pele”, diz Iza
Eleita a celebridade mais influente do Brasil em 2021 por recente pesquisa, Iza deixou a carreira de publicitária para se dedicar à música em tempo integral. Assim, a artista começou com covers no Youtube e fez apresentações em restaurantes, bailes de formaturas e casamentos. Foram seus vídeos cantando “Flawless”, de Beyoncé, e “Rude Boy”, de Rihanna, que chamaram a atenção do presidente da Warner Music Brasil, Sergio Affonso.
“Quando você envelhece, percebe que as pessoas te tratam de maneira diferente por causa da cor da sua pele (…) Infelizmente, sou uma exceção aqui no Brasil. Sou uma negra com formação superior e isso não é algo que se vê muito”, afirmou pela entrevista.
Iza sofreu pressão estética na escola e usou química nos cabelos aos 12 anos
Iza foi vítima da pressão estética muito jovem. Aos 12 anos, a cantora pediu que sua mãe a deixasse relaxar os cabelos para se encaixar na escola e dar um basta nos comentários sobre sua aparência. “Eu não tinha as ferramentas para cuidar. O fato é que é muito difícil construir amor-próprio quando o mercado, quando o mundo, não te dá os pincéis certos”, desabafou.
O relaxamento fez parte da vida de Iza por anos, até mesmo quando os produtos certos começaram a aparecer. No entanto, o alisamento passou a ser um problema para ela. A partir dos 21 anos, surgiu a curiosidade para ver como as madeixas ficariam ao natural e a carioca, enfim, adotou a transição capilar: “Queria conhecer meu cabelo. Estamos morando juntos na mesma casa e não nos conhecíamos. E então eu pensei: ‘Eu tenho que encontrar meu cabelo e ver o que acontece’”.
Verdadeiro ato de resistência não é exibir o cabelo natural
Iza está sempre experimentando uma variedade de visuais. Para ela, o verdadeiro ato de resistência não é apenas aceitar e mostrar seu cabelo, agora, natural. “Tenho que fazer o que quero”, disse ela. E acrescentou:
“Primeiro, [as mulheres negras] foram atacadas por causa de nosso cabelo natural porque nosso cabelo natural era visto como sujo, danificado e sempre fomos alvo de piadas racistas e todas as coisas ruins. Mas ainda usávamos assim, sabendo que nosso chefe poderia chamar nosso cabelo de ‘impróprio’ ou que nosso namorado talvez não nos achasse mais ‘lindas’. Era político porque estávamos dizendo, ‘Estou usando natural de qualquer maneira. Eu não me importo com o que você pensa’. Este foi o primeiro momento de resistência, o que foi realmente necessário”.
Ao mesmo tempo, Iza acha necessário espalhar a palavra de que mulheres negras são livres para usar e ser quem quiserem. Enquanto antes ela lutava contra a autoconfiança, agora está usando sua voz para criar consciência sobre os desafios de ser negra no Brasil.
“Se eu quiser ser natural, vou ser natural. Raspar minha cabeça, vou raspar minha cabeça. E se eu quero ser hétero e loira, vou ser hétero e loira. Eu não sou meu cabelo. Eu sou maior do que isso”, destacou, pedindo por mais representatividade.
“É comovente quando as pessoas dizem que sou um símbolo de beleza no Brasil. Mas sempre digo que posso representar algumas pessoas, mas apenas algumas, porque não posso representar todas as mulheres negras. Somos plurais. Somos tão diferentes. Precisamos de mais espaço”.
Foto de capa: Reprodução Instagram / @Iza @Prada