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Marília Mendonça: aparência é mais importante que o legado?

Três lições sobre gordofobia e machismo que aprendemos após morte de Marília Mendonça

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A morte de Marília Mendonça reacendeu o debate sobre gordofobia e o machismo na sociedade. Vítima de um acidente de avião, aos 26 anos, a sertaneja teve seu talento e conquistas reduzidos à aparência e ao corpo mais magro. Além disso, a falta de sensibilidade continuou quando também sofreu preconceito de gênero em jornais e programas de televisão. Afinal, a aparência é mais importante do que um legado? Destacamos três coisas que aprendemos com essa repercussão.

Elogios não se resumem a aparência corporal de ninguém

O jornalista Gustavo Alonso, em seu artigo para o jornal “Folha de São Paulo”, não soube reconhecer o sucesso de Marília Mendonça e deixou mais ainda em evidência a não aceitação de um corpo gordo. Na tentativa de uma pauta recordando a trajetória, o historiador declarou que a artista não era “atraente para o mercado ” e que “brigava com a balança”.

“Durante a quarentena, vinha fazendo regime radical. Ela se tornava bela para o mercado”, continuou o autor da matéria, como se o emagrecimento de Marília Mendonça estava sendo visto como uma conquista.

O posicionamento e opinião do jornalista não só retrata a dificuldade em exaltar uma mulher em um gênero predominantemente dominado por homens, o sertanejo, mas também que a gordofobia ainda é escancarada. Tecer elogios a alguém porque está magro só reproduz ainda mais a ideia errada de que só pessoas magras são belas.

Comentários “inofensivos” sobre o corpo alheio precisam acabar

Precisamos entender mais sobre Corpo Livre, como tratar a forma física do outro com mais gentileza e desconstruir qualquer tipo de comentário aparentemente “inofensivo”. Foi o caso de Luciano Huck. Em um tributo à cantora no “Domingão”, o apresentador destacou a “magreza” de Mendonça ao lembrar de uma recente participação dela no programa ao lado das irmãs Maiara e Maraísa, que também passaram por um processo de emagrecimento.

“Faz três semanas que eu estava com as três no palco. Na verdade, vieram só metade das três no palco, porque estavam as três magrinhas”, disse Huck. Além disso, Ana Maria Braga, pelo “Mais Você”, deu a entender que o talento vocal da artista estava ligado ao seu emagrecimento ao longo dos anos. “Ela fez tanto pra chegar nesse shape lindo, físico, né? Ela emagreceu, criando um caminho para ela, que fazia sentido, com esse vozeirão”, comentou.

Dificilmente pessoas avaliam corpos do sexo masculino na mesma frequência que avaliam as mulheres. Mesmo “sem querer”, é preciso ter bom senso, já que você não sabe como o próximo pode receber e ser afetado.

A mulher ainda é julgada por qualquer atitude

Após a morte de Marília Mendonça, confirmamos ainda que as pessoas julgam qualquer atitude da mulher, em vida ou até depois de partir. Em matéria do “Extra”, o jornal trouxe como manchete aspas da cantora sobre infidelidade, destacando que ela preferia “morrer do que ser traída”.

A questão é com o gênero e isso já ficou bem claro. O espaço público e profissional ainda é predominado pelo sexo masculino e, mesmo que a igualdade entre homens e mulheres esteja em avanço, a situação ainda está longe de equalizar.

Em entrevista ao “UOL”, o cantor Zezé di Camargo exaltou Marília: “Ela desafiou toda a atmosfera que havia contra ela, a música sertaneja era muito masculina, muito machista. Ela bateu de frente com isso, tirou a bonequinha linda, perfeitinha, e inverteu. Ela representou uma libertação de pensamentos”.

Por isso, entendemos que o mundo ainda reduz uma mulher à sua aparência ou atitude. Isso não pode mais ser normalizado! Que jornalistas, apresentadores, influenciadores e a sociedade, de uma forma geral, tenham aprendido que Marília Mendonça conseguiu, sim, deixar o seu legado! E é isso o que realmente importa!

Foto de capa: Reprodução Instagram / @mariliamendoncacantora

Redação Corpo Livre

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