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O que é dismorfia de imagem? Saiba identificar os sinais do transtorno

Nem sempre a relação com o espelho é das melhores. Mas uma insatisfação profunda pode desencadear dismorfia de imagem. Saiba o que é o transtorno!

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Qual é a sua relação com o reflexo no espelho? Pode ser até normal ter um incômodo ou outro. Mas é preciso ficar de olho. Principalmente se essa preocupação se tornou uma insatisfação tão profunda, que inviabiliza uma vida saudável com a própria aparência. Em alguns casos, pode-se observar o surgimento de um transtorno de imagem, dismorfia de imagem ou dismorfia corporal. Já ouviu falar?

Saiba o que é dismorfia de imagem ou dismorfia corporal

Essa condição é cientificamente chamada de TDC (Transtorno Dismórfico Corporal), aceita dentro do espectro de transtorno obsessivo compulsivo. O que significa? Ela consiste na percepção alterada da autoimagem. De acordo com o psiquiatra Táki Cordás, um dos organizadores do livro “Transtorno Dismórfico Corporal — A Mente Que Mente”, o paciente com TDC apresenta uma “preocupação exagerada e obsessiva com algum defeito imaginário em sua aparência física”. 

O cotidiano de quem vive com dismorfia de imagem pode girar em torno da insatisfação, onde o indivíduo cria uma autoimagem distante da realidade. Muitas vezes, a pessoa pode até desistir de ter uma vida social, pois sair de casa implica em ser visto e percebido.

“Causa sofrimento clinicamente significativo – tristeza, vergonha, ansiedade, depressão –, consome tempo, perturba o cumprimento das tarefas diárias e tem prejuízo no funcionamento do dia a dia e impacto no trabalho ou escola”, diz Cristina Sousa Ferreira, psicóloga na Oficina de Psicologia, em entrevista à Vogue Portugal. O indivíduo começa a se isolar socialmente, se distanciando de amigos, família e relações amorosas.

O papel das redes sociais no agravamento de transtornos de imagem

Não é segredo que as principais redes sociais trabalham com imagens. Assim, a beleza acaba recebendo uma recompensa quase imediata em forma de alcance e engajamento. Isso faz com que a estética se torne uma ferramenta de trabalho para muitas pessoas. 

Em 2018, especialistas denominaram como Dismorfia do Snapchat (plataforma de vídeos curtos precursora de filtros que alteram a aparência) o fenômeno do uso indiscriminado em selfies e aumento da procura por cirurgias plásticas. 

Pesquisadores da Universidade de Boston publicaram uma pesquisa com dados surpreendentes. De acordo com cirurgiões plásticos, houve um aumento de pedidos de jovens por procedimentos que cheguem o mais próximo possível de suas fotos alteradas com a ferramenta. 

No mesmo ano, números da Academia Americana de Cirurgia Facial Plástica e Reconstrutiva reforçam que o problema necessita de atenção. De acordo com estudos que analisaram o ano de 2017, 55% dos cirurgiões plásticos faciais receberam pacientes que tinham como objetivo aparecer melhor em selfies. Um número expressivo, comparando com 13% do ano de 2013.

O mundo virtual, então, se torna um verdadeiro pesadelo. Não só para pessoas com TDC, como também para qualquer usuário que esteja passando por um momento crítico de autoestima. Imagina a todo momento ser bombardeado com imagens modificadas e se comparar de forma injusta com rostos digitalmente alterados?

O padrão acaba ganhando um reforço tecnológico também impossível de ser alcançado. E, mais uma vez, as características naturais de cada um acabam sendo deixadas de lado. 

Dismorfia Corporal e Disforia de gênero: é a mesma coisa? 

É importante ressaltar que disforia de gênero é diferente de dismorfia de imagem, principalmente por não se tratar de um distúrbio psicológico. A despatologização da disforia de gênero e da transexualidade em 2018 pelo Conselho Federal de Psicologia foi um passo gigantesco para o combate à transfobia no Brasil e para a validação de corpos não cisgênero.

A disforia de gênero é classificada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma condição em que a pessoa vive em conflito entre seu gênero pré-determinado ao nascer e aquele com o qual se identifica, apesar de não ser pré-requisito para caracterizar uma pessoa trans. O processo pode (ou não) desencadear questões em relação a sua genitália ou traços característicos de gênero. Pessoas transexuais podem fazer uso de hormônios para se sentirem mais próximas de si mesmas ou até cirurgia de redesignação de gênero. 

Médicos devem saber diferenciar insatisfações corporais e dismorfia de imagem

No país em que mais se realizam cirurgias plásticas no mundo, é preciso que médicos cirurgiões plásticos e profissionais da estética estejam atentos a seus pacientes e analisem os casos com cautela. 

Um artigo publicado na Revista Brasileira de Cirurgia Plástica reforça que cirurgias não são recomendadas a pacientes com o transtorno: “O típico paciente com TDC não procura um psicoterapeuta ou um psiquiatra, mas um cirurgião plástico, justamente pela crença patológica de que o defeito físico é seu real problema. A cirurgia cosmética para a melhora da imagem corporal, nesse caso, está fadada ao fracasso, porque não existe uma deformidade real e a cirurgia não pode curar preocupações que sempre mudam com a aparência. O mais recomendado é não operar o paciente com TDC.”

Logo, é claro o papel das questões sociais interferindo em transtornos como esse, que se manifestam na preocupação com a aparência. Uma mente saudável e em busca de saúde deve ter como aliada profissionais sérios que olhem seus pacientes além de um conjunto de sintomas e se preocupem com as causas e interferências disso ao longo da vida. Se você estiver passando por problemas com sua autoimagem que estejam te impossibilitando de viver uma vida tranquila, busque ajuda em pessoas de confiança e em médicos éticos e comprometidos. 

Foto de capa: Unsplash

Redação Corpo Livre

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