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‘Basta ter força de vontade’: o milagre que não existe
Será que a força de vontade é o bastante para conquistar o tão falado corpo perfeito? Leia a coluna da nutricionista Marcela Kotait!
Já percebeu como são inúmeras as propostas para mudar seu corpo com um pouco de “força de vontade”, comprimidos milagrosos, receitas fitness, entre outras promessas? No entanto, a ideia de que nosso corpo é modelável me preocupa há muito tempo. A falsa sensação de que, para mudá-lo, basta força, fé e foco servem como um guia para a frustração, mas isso ninguém fala.
A maioria das pessoas sofre com insatisfação corporal e idealiza uma alimentação utópica. Mas esse tipo de idealização, se levado ao limite, pode trazer riscos sérios à saúde. Por isso, pensando nesses conflitos, escreverei periodicamente aqui sobre alimentação, nutrição, forma física e outros assuntos relacionados. De uma maneira real, buscando te ajudar a entender o que é viver de maneira verdadeiramente saudável com o corpo e a alimentação.
Há 13 anos, estudo as relações entre a busca pela saúde e a obsessão pelo corpo perfeito. Me dedico a entender, pesquisar e a tratar transtornos alimentares, comer transtornado e obesidade. Esses temas já vêm sendo estudados com mais profundidade no exterior há tempos, e vêm ganhando força por aqui recentemente.
Minha meta é construir abordagens e ações acolhedoras que proporcionem qualidade de vida e bem-estar para todos. Dessa maneira, compartilharei neste espaço minhas ideias e conhecimento sobre nutrição, alimentação e corpo, além da minha experiencia clínica e como coordenadora do ambulatório de anorexia nervosa do Ambulim do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Visitaremos aqui as ambivalências, as contradições e as crenças sociais perpetuadas quando pensamos em um mundo movido por padrões de beleza implacáveis. Assim, lidando com o que parece ser impossível, desconstruiremos a força que esses modelos têm em nossas vidas.
Você não está só. Isso porque vivenciar a própria imagem e o corpo com sofrimento é mais comum que imaginamos. Acredita-se que nove em cada dez mulheres têm algum grau de insatisfação com sua aparência. E isso inclui aquelas que você julga “perfeitas” pela televisão e pelas redes sociais.
Com os próximos textos, espero te ajudar a repensar e questionar os padrões de saúde. A respeitar os sinais que seu corpo mandar, a entender seus gostos pessoais e a valorizar os prazeres envolvidos nos atos de comer e de habitar sua pele. Usarei esse espaço para discutir a ciência da nutrição e também para refletir sobre as implicações que a nossa sociedade produz quando falamos em comida e corpo.
Foto de capa: Adobe Stock