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Thiago Oliveira: o corpo da mulher não é de domínio público
Os dedos apontam para mais uma mulher. Dessa vez, o alvo é uma jovem de 22 anos. O motivo? Ela decidiu fazer uma laqueadura. Mas por que esse tipo de situação é tão comum em nossa sociedade? Bem, isso vem de muito tempo atrás e com base na celeuma argumentativa do determinismo biológico.
As mulheres foram resumidas no seu potencial reprodutivo, ponto final! Gerda Lerner, em “A Criação do Patriarcado”, nos apresenta isso de forma muito didática e objetiva: a dominação do corpo feminino sobre a sua capacidade reprodutiva. Ou seja, essa jovem não poderia ter feito tal procedimento, a laqueadura, pois, afinal de contas, o objetivo dela aqui na Terra é gestar e parir seres humanos.
Seres humanos nada humanos…
São esses que apontam o dedo para toda e qualquer escolha feminina. Se faz laqueadura, está errada! Teve 4 filhos, é uma irresponsável! Usa anticoncepcional, ela que se dane com os efeitos colaterais. Se decide implantar um DIU, mas mesmo assim engravida, ela que quis e assumiu o risco!
Se foi estuprada e decidiu abortar, ela é fria, ruim, quase uma figura demoníaca. E se simplesmente não quis ter filhos, é uma pessoa vazia, de valores nada cristãos e sem compromisso com a sociedade. Olha só, nós temos, hoje, 8 BILHÕES de pessoas no mundo. Se alguma atitude merecia ter aplausos é de uma pessoa que decide não ter filhos, mas vocês não estão preparados pra essa conversa. Voltemos.
Dedos apontados. Opiniões lançadas. Mulheres julgadas.
Seus corpos sendo vistos como “de uso comum” desde mil novecentos e bolinha. Sempre! Sabem o que essa jovem chegou a ler? Que a filha dela tinha que abandoná-la por fazer ela crescer sozinha e sem irmãos. Outro comentou que ela era uma mulher seca, pois talvez não tivesse fertilidade.
Desculpem as palavras, mas além de intrometido é burro, pois sendo infértil ela nem precisaria da laqueadura. Chegaram a dizer que a filha dela deveria colocá-la em um asilo para que ela soubesse o que é ser sozinha.
A mãe, jovem, ainda disse que sabia, mais do que ninguém, que não teria condições de criar uma criança. Ou seja, uma pessoa consciente! E pra além disso, uma pessoa que tem o total direito pra decidir sobre as suas próprias escolhas.
Uma pessoa (mulher!) que tem liberdade de escolha!
Ora, não prezamos tanto por essa tal liberdade? Homens e mulheres, independente das suas identidades de gênero, deveriam ter liberdade para tomarem as decisões sobre as suas vidas. Todas! Opa, mas “pêra” aí. Aos homens, cis, hétero, nós não possuímos os mesmos critérios para críticas e apontamentos. Aliás, vocês já viram pessoas divulgando e incentivando a vasectomia? Um procedimento mais simples e reversível, mas pouco discutido e encorajado, correto?
Entendem a diferença?
Toda a responsabilidade sobre novos seres humanos na Terra recaem sobre as mães. Aos homens, nunca temos os dedos apontados. São sempre vistos como imaturos, “em processo de aprendizagem” e que “não foram feitos pra isso”.
O determinismo biológico sendo usado de forma leviana e irresponsável, pois perpetua ideias conservadoras e ultrapassadas. Mulheres não nasceram pra serem mães. Não nasceram procriar e povoar e Terra. Não nasceram para serem propriedade privada e darem satisfação sobre as suas escolhas.
O mundo já está cheio demais de pessoas apontando o dedo e sentando sobre o próprio “rabo”. 8 bilhões de pessoas no mundo? Essa jovem deveria estar sendo aplaudida pela sua consciência. Por mais mulheres assim, porque da grande maioria só teremos dedos para apontar.
