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“Dieta é a cura que não funciona para um problema que não existe”

Frase do livro “The Fat Underground”. Discutir sobre a cultura da dieta é necessário para que avancemos na autoaceitação. Leia a coluna de Rafaella Machado!

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"Dieta é a cura para um problema que não existe"

Se você é mulher e parou pra ler esse texto, eu imagino que a sua trajetória até a autoaceitação tenha sido sofrida e tortuosa. Isso porque, há poucos anos, a ideia de aceitar o seu corpo como ele está neste momento era impensável. Não existiam livros nem filmes que retratassem corpos diversos. O único lugar que corpos gordos ocupavam na publicidade era na foto de “antes” do comparativo “antes e depois”. Se você é adulta hoje, você cresceu venerando corpos de supermodelos, se comparando a um padrão que não é real e que foi photoshoppado. Vendido como alcançável se apenas você fosse capaz de colocar a preguiça de lado.  

Como se não bastassem as dietas da moda nos vendendo a promessa de “secar em 10 dias”, têm as cintas modeladoras, os cremes antienvelhecimento e as musas fit. Os termogênicos, as anfetaminas, os laxantes. A bariátrica, a lipoescultura, as próteses de seios e glúteos. Os aplicativos de edição de imagem, os realities de emagrecimento, a bichectomia para afinar o rosto. Para cada insegurança sua, existe um procedimento estético. Essa lista não tem fim.

As coisas que estamos dispostas a fazer pelo “corpo ideal” falam por si próprias. Desde cortar um grupo alimentício a arriscar a vida em uma mesa de cirurgia. E, quando uma mulher morre vítima desses procedimentos, a própria sociedade que empurra o emagrecimento goela abaixo as condena: “Também, quem mandou ser escrava da beleza? Morreu nas mãos da própria vaidade.”

Como foi que chegamos a esse ponto? O que estamos abrindo mão nessa busca incessante pelo corpo perfeito? O custo real da nossa obsessão com o corpo vai muito além da fome e da insatisfação com a nossa imagem. Nós sacrificamos horas dos nossos dias, sacrificamos uma relação boa com a comida, sacrificamos uma energia que poderia ser gasta com nossos relacionamentos e projetos pessoais. E, em troca, estamos mais infelizes do que nunca.

Eu já conhecia o trabalho da Xanda quando mais precisei dele. Por isso, meses antes do meu casamento, decidi de forma consciente que a única coisa que eu faria para entrar em um vestido de noiva seria encontrar um vestido que coubesse em mim. É um pensamento tão simples, mas que eu não teria como colocar em prática se não fosse o trabalho e o ativismo da Xanda. 

E, ao me permitir casar com o corpo que eu tinha naquele dia, eu pude focar completamente na minha relação, no evento, nos convidados e também me reconhecer nas fotos, em vez de fazer aquilo tudo ser sobre o meu peso. Porque infelizmente, a realidade é que a pressão estética, presente em toda a vida das mulheres, vêm com força total na hora do casamento. É nessa hora que vivemos na pele o machismo por trás da produtificação dos nossos corpos.

Pense nas manchetes “Descubra como Fulana fez para secar e entrar no vestido de noiva”, “Dietas para casar de barriga chapada”, “Como controlar a gula durante o noivado”. É toda uma indústria que te faz acreditar que você só será digna do seu marido se couber em um vestido X. E não só durante o casamento, mas depois dele, ok, meninas? No entanto, não vejo nenhum homem com a mesma neura sobre caber no terno. 

Emagrecer para casar é um pensamento tão difundido na sociedade que, até eu casar, não sabia que era possível planejar esse evento sem pensar em diminuir de tamanho. Assim, da forma como a cultura do emagrecimento funciona, todas as etapas da vida feminina são sobre perder peso. Vai casar? Emagreça! Virou mãe? Emagreça logo e recupere o seu corpo de “antes.” 

Talvez por isso, entre uma dieta da proteína e uma aula de crossfit, você tenha se perguntado se o propósito da sua vida era realmente baixar ao máximo o índice de gordura corporal do seu corpo. Quem sabe, dentro do provador da loja, ao se deparar com o tamanho da sua calça, você tenha desconfiado de que a felicidade poderia estar em outro lugar e não na numeração de um jeans. 

E adivinha o quê? Você estava certa. A parte de você que sempre desconfiou de que havia mais para ser conquistado na vida do que o corpo perfeito estava certa. Existe toda uma vida a ser vivida para além dos padrões de beleza, e é deste assunto que a Alexandra aborda.

O trabalho da Alexandra é importantíssimo quando pensamos em representatividade. Isso porque, quando a atual geração de mulheres adultas estava crescendo, não havia nenhuma mulher fora dos padrões nos falando que a vida era mais do que uma guerra com a balança. Só o fato da Xanda existir nas mesmas redes sociais que propagam a competitividade tóxica pelo corpo perfeito, em si, já é um antídoto contra o sistema.

E assim, vídeo após vídeo, post após post e agora livro após livro, a Xanda desmascara a canalhice por trás da cultura da dieta. Também te fornece instrumentos para repensar sua autoestima. Por fim, te ajuda na construção de um amor-próprio capaz de revolucionar a sua vida. 

Por isso, se você está cansada de começar e falhar em mais uma dieta, se não aguenta mais os grupos de família do whatsapp fazendo piadas com gordos, se você já começou a desconstruir tudo aquilo que foi doutrinada a acreditar, esse livro é para você.

E, se você não sabe nem por onde começar, só sabe que está cansada de se odiar, então esse livro também é para você. Então, aposente a sua cinta modeladora e se junte à revolução que está libertando mulheres pelo mundo afora. Afinal, existem milhões de formas de ser bonita de verdade e nenhuma delas envolve sofrimento.

*Esse texto foi originalmente escrito como prefácio do livro “Comece a se Amar”, segunda obra literária de Alexandra Gurgel. Para garantir seu exemplar, clique aqui.

Foto de capa: Adobe Stock

Rafaella Machado

Sou apaixonada por livros e tudo que envolve o universo literário, da capa a história ao projeto gráfico. Sou Editora-Executiva da Galera Record, onde publicamos grandes obras desde fantasia épica a romances contemporâneos com foco em diversidade.

Sou apaixonada por livros e tudo que envolve o universo literário, da capa a história ao projeto gráfico. Sou Editora-Executiva da Galera Record, onde publicamos grandes obras desde fantasia épica a romances contemporâneos com foco em diversidade.

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