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Deficiente visual, Nathalia Santos avalia representatividade em ‘Todas as Flores’
Nesta semana, os fãs de “Todas As Flores” vão poder assistir a segunda fase da novela que emocionou o público com tamanha inclusão e representatividade. A trama central aborda a história de Maíra (Sophie Charlotte), uma mulher deficiente visual que trabalha em uma empresa com outras pessoas cegas empregadas. Quem faz parte dessa história é Nathalia Santos, que foi emprestada ao Globoplay como assistente de direção do folhetim.
Nathalia Santos possui retinose pigmentar sem pigmento. Ou seja, doença que causa a degeneração da retina. De acordo com a profissional, ela ficou completamente sem a visão aos 15 anos. Antes disso, ainda estava preservado cerca de 20% da visão e Nathalia enxergava vultos distorcidos e contornos.
Segundo a assistente de direção de “Todas as Flores”, o convite para o trabalho foi gratificante. “Receber essa notícia foi uma alegria, um misto de surpresa com a certeza de que haveria entrega da minha parte e de que eu aprenderia muito. Consegui juntar toda a minha bagagem corporativa e televisa, mas sem esquecer dos detalhes e de cuidar das pessoas. Foi como se tivesse recebido um presente do qual nem sabia que precisava. A ideia é continuar e galgar cada vez mais espaços nessa área”, disse em entrevista à “Quem”.
“Sou uma bandeira de diversidade ambulante”
Nathalia Santos, de “Todas As Flores”, comemora a representatividade na tela e o quanto pôde contribuir para o sucesso de com a sua realidade: “Sou uma bandeira de diversidade ambulante. Sou mulher, periférica, negra e com deficiência. A riqueza que tem na minha presença num projeto, seja ele novo ou algo que eu domine com o pé nas costas, é a multiplicidade de olhar que eu tenho, de tantos recortes. Além disso, a minha vontade de aprender e agregar”.
Com sua experiência de vida, Nathalia Santos agregou ao enredo da trama e trouxe algumas mudanças, dentro e fora das cenas. “A gente atrela representação e representatividade, e tem a questão do exemplo. Quando vim para a novela, fiz questão de não ser a única com deficiência visual na equipe. Foi, intencionalmente, porta de entrada para os meus semelhantes. Além disso, sou especialista na deficiência, não por ser deficiente, mas por estudá-la. Posso estar ao alcance do diretor-geral, do autor e dos atores como alguém que vai responder com propriedade a determinados assuntos… A gente causa um incômodo positivo, que gera transformação”, declarou.
Nathalia Santos acredita que há muito a ser feito pelos deficientes visuais
Nathalia Santos, de “Todas as Flores”, analisa que existem melhorias que precisam ser feitas em prol dos deficientes visuais. “Acreditam que não podem fazer nada para contribuir para o avanço. Então, essa responsabilidade fica como ping-pong, do governo para a sociedade, da sociedade para o governo. Tem lei, mas não tem fiscalização. Pessoas com deficiência fazem parte do todo e têm os mesmos direitos que as sem deficiência. É preciso que nos vejam como pessoas e considerem nossas dificuldades. Eu tenho minhas limitações, como todo mundo, a diferença é que ninguém considerou as minhas”, disse.