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Juliana Caldas critica filme “Amor sem Medida” e pede fim do capacitismo
Juliana Caldas lamentou a falta de representatividade de atores com nanismo e acusou nova produção da Netflix de piadas capacitistas: “Não dá mais para aceitar rir disso hoje”.

O filme “Amor Sem Medida” gerou debate sobre capacitismo nas redes sociais. Estrelado por Leandro Hassum e Juliana Paes, o novo projeto da Netflix conta a história de um cardiologista de 1,36m de altura que se apaixonada por uma advogada divorciada. Apesar de a comédia romântica abordar o tema do nanismo, a atriz Juliana Caldas levantou alguns pontos preconceituosos do longa.
“A maior parte do filme tem piadas preconceituosas”, afirma Juliana Caldas
Em primeiro lugar, Juliana Caldas se queixou do uso de computação gráfica para mudar a estatura de Leandro Hassum. Ao invés disso, a produção poderia ter escalado um ator que tenha a condição. Em seguida, a artista lamentou que o humor capacitista nunca tenha sido questionado pelo público.
“A maior parte do filme tem piadas totalmente capacitistas, totalmente preconceituosas. Quando a gente fala sobre o nanismo, a maior parte das vezes é nessa forma de piada. O nanismo é considerado uma deficiência. Não dá mais para aceitar rir disso hoje”, explicou Juliana, afirmando que não conseguiu terminar o filme.
Atriz quer seriedade ao abordarem o nanismo
Em 3 de dezembro, comemora-se o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. De acordo com as Nações Unidas, a data foi promovida desde 1992 para ajudar todos a se tornarem mais compassivos e compreender os desafios enfrentados pelas pessoas com deficiência nos aspectos da vida política, social, econômica e cultural.
Conforme a data, Juliana Caldas disse que não dava para “passar batido a falta de respeito com o próximo”. “Ainda mais no mundo de hoje, sabe? A gente vê que todas as outras pautas são levadas a sério. E aí quando você põe a pauta de nanismo, na maioria das vezes não é levada a sério”, ressaltou.
Juliana Caldas relembra personagem em novela da Globo
Juliana Caldas ficou conhecida depois de atuar na novela “O Outro Lado do Paraíso”. Na trama de Walcyr Carrasco, a atriz deu vida a jovem Estela, que era maltratada pela mãe, Sophia (Marieta Severo). Sob o mesmo ponto de vista, ela recordou seu papel pela TV Globo e disse que o objetivo de sua personagem era levantar a reflexão a respeito da condição.
Por fim, Juliana pediu por mais empatia dos produtores e público: “Não era humor, e sim drama. Dava-se abertura para questionar muitas coisas e para pensar o quanto isso fere o próximo. Ele [Hassum] tenta fazer rir, mas eu não ri em nenhum momento. É cansativo ter que explicar o óbvio, o simples, explicar que, a partir do momento em que uma piada ou frase fere o outro não é legal”.
Leandro Hassum pede desculpas: “Jamais quero causar dor”
Após a repercussão negativa, Leandro Hassum veio a público se desculpar com Juliana Caldas. De acordo com o humorista, seu propósito com “Amor sem Medida” é divertir e entreter a família brasileira. “Sinto muito de verdade, pois jamais quero, através dos meus filmes e arte, causar dor. O filme conta uma história de amor, de pertencimento e de inclusão, valorizando as capacidades de seus personagens e repudiando qualquer preconceito, de qualquer espécie”, começou.
Apesar de vivermos em um mundo ainda longe da igualdade para todos, Hassum acredita que estamos caminhando “no sentido de não dar espaço a nenhum tipo de preconceito, segregação ou exclusão”.
“Esta foi a intenção, por meio da leveza do humor, abordar a importância de vivermos num mundo com mais amor e respeito, onde ser aceito e amado independe de características físicas. Fico aqui com o coração doído por, de algum modo, não ter transmitido isso a Juliana Caldas e estou mais que aberto a acolhê-la com meu total carinho e respeito”, finalizou.
Rebeca Costa também lamenta falta de representatividade: “Precisamos respeitar”
Rebeca Costa tem nanismo e é idealizadora do projeto Look Little, que consiste em mostrar o corpo e a condição das pessoas de forma positiva e real. Do mesmo modo que Juliana Caldas, a nossa colunista se queixou da falta de representatividade do filme.
“Precisamos respeitar o nanismo. Acredito que seja a única deficiência, hoje, que ainda é vista de forma pejorativa no humor. Esse filme só mostra a incapacidade de acreditar em atores com nanismo para trazer representatividade e como ainda existe a falta de respeito no cinema brasileiro. Até hoje ainda não vi nenhum trabalho, tirando ‘Cúmplices de um Resgate’, que eu assista e fale ‘me representa’”, lamentou.
Por fim, Rebeca Costa ressalta que a modernidade promove o alcance à informação e conhecimento: “Esse filme só mostra o retrocesso das pessoas que são presas a uma definição que não existe. A internet é o meio de comunicação de maior acesso ao mundo. Então, não há desculpas”.
Foto de capa: Reprodução Instagram / @juzinha.caldas / Fotógrafa Raquel Lira