Corpo
Food shaming: quais são os riscos da fiscalização da comida alheia?
Comentar e julgar sobre a comida do outro pode desencadear transtorno alimentar, entre outros riscos. Mas o que é food shaming? Confira!
Mesmo que você não saiba o que significa o termo em inglês, é possível que você já tenha sofrido ou mesmo praticado food shaming. Mas afinal, o que isso significa? Em uma tradução livre, é criticar ou julgar alguém por suas escolhas alimentares, com base em conceitos próprios de comida “boa” e “ruim”.
No entanto, o que define o que se pode ou não comer? Existe comida “ruim”? Quais são os riscos de virar fiscal do prato alheio? Saiba mais sobre o food shaming e o que você precisa para comer sem culpa!
O que é food shaming e por que as pessoas se preocupam com isso?
O food shaming, ou julgar a comida de alguém, está extremamente ligado à cultura da dieta. É ela que divide a comida em categorias, dizendo o que você pode ou não pode comer para ter um corpo aparentemente saudável – ou seja, magro. Além disso, a busca pelo corpo perfeito tira o real prazer em comer e transforma as refeições em uma mera contagem de calorias e uma preocupação constante com o peso.
Porém, o food shaming também pode se manifestar de outras maneiras. Pratos típicos de outras regiões, com sabores, texturas e cheiros diferentes do que as pessoas estão acostumadas, também podem ser alvos de comentários preconceituosos e de julgamentos, o que se caracteriza como food shaming.
O ato de comer está além do que se coloca no prato
A grande questão é que o ato de comer está muito além da comida em si. Muitas das nossas escolhas alimentares têm a ver com nossas memórias afetivas, com o contexto e também com nossas emoções, como explica a nutricionista e nossa colunista Marcela Kotait. “Desde o contexto, até características físicas, a rotina, questões familiares, psicológicas e emocionais. A mesma comida pode ser comida de várias maneiras”.
É por isso que é tão difícil deixar de lado o café com leite que te remete à sua mãe, por exemplo, para aderir ao suco verde com tapioca que dizem ser mais saudável. Também não é nada fácil trocar um pedaço de chocolate por um pedaço de maçã quando você se sente ansiosa ou está tendo um dia ruim.
Food shaming pode desencadear transtorno alimentar e mais
Por isso, julgar o que uma pessoa está comendo apenas com base no seu conceito do que faz bem ou não é um risco. Se ela está usando a comida como escape para as emoções, ela precisa de ajuda profissional e não de uma opinião não solicitada. Isso porque o food shaming pode ser gatilho e desencadear até mesmo transtornos alimentares.
A fiscalização do prato alheio também expõe outra questão: a gordofobia. Até porque uma pessoa comendo hambúrguer com fritas para desestressar dificilmente vai ser alvo de comentários. Pelo contrário: pode até receber elogios por “poder comer à vontade”.
Já a pessoa gorda nunca pode ficar à vontade para comer. Se come um lanchinho, pode acabar engordando mais. Mas, se come uma fruta, é porque está tentando emagrecer. Se come muito, é descontrolada. Se não come, ninguém se preocupa se ela está bem. Ou seja, é preciso repensar e acabar com o food shaming.
Comer sem culpa e de forma consciente é o melhor caminho
Não é fácil, mas um caminho possível para interromper o food shaming é comer sem culpa e de forma consciente. Vale reforçar que ninguém come apenas para sobreviver e que a comida também faz parte da vida social e afetiva das pessoas. Por isso, não precisa se martirizar e nem fiscalizar o prato alheio por causa de nutrientes a mais ou a menos.
No entanto, é importante lembrar que comer de forma consciente e equilibrada é a melhor pedida para quem busca uma relação mais saudável com o corpo e com a comida. Por fim, existem muitos profissionais que seguem a linha não-prescritiva (que não prescrevem dieta) e que podem te abrir um mundo de possibilidades sem que você tenha que abrir mão do prazer de comer.
Foto de capa: Pexels