Bem-estar e autoestima
Lara Cunha: o dia que eu perdi o medo de engordar e me livrei da culpa ao comer
Você tem medo de engordar? Eu fiz minhas primeiras dietas com 12 anos depois de sofrer bullying na escola e, com isso, perdi alguns bons quilos. Fui de “gordinha zoada” para “magra super azarada”, o que me fez acreditar que para ser bonita, admirada e desejada eu deveria ser magra.
“Comecei a me relacionar com um namorado tóxico e o meu corpo voltou a virar questão”
Depois disso, passei algum tempo sem muito problema em relação ao meu corpo, até que comecei a me relacionar com um namorado extremamente tóxico e minha aparência física se tornou questão. Voltei a fazer dietas e aí o pesadelo começou.
Com 19 anos, eu fiz uma dieta bastante restritiva – vale ressaltar que foi uma dieta feita por uma nutricionista, inclusive ela me passou uma bateria de exames. Emagreci 12 quilos e cheguei no corpo mais magro que já tive na vida. Eu tenho 1,77 de altura e pesei 63 quilos.
Fazia dieta a semana toda esperando chegar domingo, que era meu “dia do lixo”, no qual podia fazer uma refeição “livre”. Até que uma refeição livre do domingo virou o domingo inteiro comendo, que virou o fim de semana todo comendo, que virou a semana toda comendo, porque eu simplesmente não conseguia mais seguir a dieta.
Compulsão alimentar e dietas restritivas se tornaram um ciclo vicioso
Ali, eu comecei a desenvolver episódios de compulsão alimentar, meu corpo estava tão faminto e desesperado que eu não conseguia mais parar de comer. Só que com isso eu voltei a engordar – o que na época para mim era uma morte terrível. Então, eu tentava voltar para a dieta e fazia o ciclo continuar.
Chegou num ponto onde a dieta não fazia mais efeito e eu estava engordando de verdade, foi onde eu comecei a vomitar. Vivi num ciclo de restrição, compulsão e purgação durante muitos anos. Tinha épocas que esse ciclo acontecia cinco vezes num só dia! Com isso, eu conseguia manter meu corpo magro, porém nem tanto porque eu continuava engordando e emagrecendo e piorando o meu transtorno alimentar ainda mais.
Fiquei bons anos nesse ciclo infernal do meu transtorno alimentar. Em 2016, com 22 anos, eu estava exausta, não aguentava mais aquele inferno na minha vida. Eu acordava e ia dormir pensando em tudo que eu queria comer e não podia, e em como eu ia conseguir emagrecer, era 24 horas pensando em apenas uma coisa.
“Numa noite de desespero comecei a procurar na internet formas de solucionar meu problema”
Eu achei uma menina que dizia que o segredo para curar a compulsão era parar de fazer dieta, mas se eu parasse de fazer dieta eu ia engordar e eu não podia engordar. Só que eu estava tão desesperada e infeliz que comecei a considerar a ideia.
Tentei parar de fazer dieta e decidi que não ia mais vomitar, mas as compulsões não pararam e eu comecei a engordar mais. Isso foi em dezembro de 2016 e a última dieta que eu fiz foi em julho de 2018. Ou seja, o tormento durou mais 2 anos. Eu sabia que eu tinha que parar com aquilo, mas não conseguia aceitar o fato de engordar e não fazer nada para mudar.
Eu fui de férias para o Brasil no início de 2019, mas voltar para a minha cidade me trouxe muitos gatilhos por causa do meu corpo. Quando voltei para Portugal, onde eu já morava há dois anos, tive uma recaída muito grande. Fiquei quase um mês tendo compulsão todos os dias. Nesse processo, eu engordei mais e fiquei muito mal, não acreditava que ainda estava sofrendo com o mesmo problema, estava arrasada e sem esperança de melhorar.
Como perder o medo da comida e engordar
Mas aqueles episódios de compulsões frequentes foram o estopim para mim. Voltei a buscar socorro e foi aí que conheci a Marina, a nutricionista que me ajudou a me curar do meu transtorno alimentar. A Marina, através da nutrição comportamental, trouxe a paz de volta aos meus dias e mudou completamente minha relação com a comida.
Ela me ajudou a perder o medo de engordar, a perder o medo da comida. Ela me ajudou a me livrar da culpa ao comer, e a entender que eu tinha permissão incondicional para comer, e que isso diferente do que eu acreditava, não me faria sair por aí devorando tudo, muito pelo contrário.
Com o passar dos meses, os episódios de compulsão foram desaparecendo até sumirem de vez. Era inacreditável ver tanta mudança no meu dia-a-dia, eu estava finalmente vivendo em PAZ, tinha feito as pazes com a comida, me curado do meu transtorno alimentar e isso abriu espaço pra eu viver tantas outras coisas…
“Eu não vivia mais em função do meu transtorno alimentar, eu não era mais refém da comida”
Queria muito pegar tudo que eu aprendi nesse tratamento, encapsular e sair distribuindo pra todo mundo que sofre desse mal, mas infelizmente não posso. O que eu posso fazer é te falar que transtorno alimentar tem cura! Você não precisa mais continuar sofrendo sozinha, busque ajuda e tratamento, pois existe uma vida LINDA fora do transtorno alimentar.
E você que não tem um transtorno alimentar e quer emagrecer, cuidado em como você vai fazer isso. Dietas são muito perigosas e podem te adoecer!