Corpo
Quem é “padrãozinho”? A pessoa padrão também sofre?
Já ouviu falar no famoso padrãozinho? Quem é essa pessoa? O que ela faz? Ela tem culpa por ser padrão?
Você já ouviu o termo “padrãozinho” por aí? Já se perguntou quem é essa figura que carrega o título máximo de enquadramento estético dentro da sociedade? Sabemos hoje que o padrão de beleza é um conceito comum tanto para homens quanto para mulheres.
Assim como o “homem branco cis hétero” que segue no topo da cadeia dos privilégios, existe um personagem que materializa a ideia de padrão de beleza: o “padrãozinho”. Bora refletir sobre?
Mas o que é padrãozinho, afinal?
As características físicas que mais contribuem para que alguém se enquadre como padrão estão diretamente ligadas à:
- magreza e definição corporal;
- raça;
- ausência de deficiência física;
- cisgeneridade (identificação com o gênero designado no nascimento).
Por isso, corpos brancos, magros e dentro da normatividade têm mais chances de serem considerados padrão. Justamente porque estão alinhados com o ideal do que é ser bonito em uma sociedade que ainda se sustenta racista, gordofóbica, capacitista e transfóbica.
Por que todo mundo tem praticamente o mesmo gosto?
Tente fazer exercício mental e visualizar uma mulher branca com um corpo definido, cabelos lisos, magra. Possivelmente você irá projetar uma figura bela na sua cabeça. Mas como esse conjunto de características se instituiu no nosso imaginário como uma manifestação de beleza? Já parou pra questionar?
Essa proposta de reflexão é uma forma de entender o motivo de repetirmos modelos de pensamento sem questionar de onde eles vieram. E além: por que continuam sendo mantidos sem que a gente se pergunte o motivo.
O padrãozinho também sofre?
A partir do momento que entendemos que o padrão de beleza é inalcançável, compreendemos que o “padrãozinho”, por mais que aparente, também não está satisfeito. Quantas famosas fazem lipo, cirurgias e colocam silicone mesmo já tendo um corpo tido como perfeito? O que será que as motivam a fazer isso? Logo, insatisfações e opressões existem para todo mundo. Dores doem.
É importante deixar claro que todas as questões com nossos corpos são legítimas e merecem respeito, pela história que carregam e o que significam de forma individual. Elas são distintas e possuem diferentes recortes, uma vez que existem diferenças entre não gostar de algo em si e não caber na estrutura da sociedade.
Um corpo gordo tem acesso negado a locais públicos, uma vez que catracas de ônibus não foram feitas para todos. O mesmo acontece com corpos com deficiência, por exemplo.
Logo, existem sofrimentos que são consequências de insatisfações pessoais e sofrimentos que partem do preconceito, da ausência de estrutura nos espaços públicos, ou até mesmo de violências psicológicas, verbais ou simbólicas. Esses últimos precisam de atenção pública e política.
Entender seu lugar dentro da sociedade é necessário não só para a gente se conhecer como também ser aliado de quem não tem voz e precisa de ajuda para mudar a forma como a sociedade está estruturada.
Ser padrão não é um problema!
Se você está dentro do padrão e ainda carrega com você insatisfações, não se culpe. A pressão estética provoca isso em todos os corpos. Se você estiver vivendo com um distúrbio alimentar ou de imagem, saiba que você não está sozinho e a busca por ajuda será sempre o melhor caminho.
Estar dentro do padrão não anula questões com a aparência e reconhecer isso, além de ser um processo de autoconhecimento, é valioso para a luta contra as demais opressões.
Foto de capa: Adobe Stock