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Regina Casé fala de etarismo por viver vilã sexualmente livre em ‘Todas as Flores’

Regina Casé está vivendo pela primeira vez uma vilã na TV. Em “Todas As Flores”, novela de João Emanuel Carneiro, a artista interpreta uma criminosa envolvida com esquema de tráfico humano e que deixa bem claro que é sexualmente livre. Segundo a atriz, infelizmente, ela sente o etarismo em alguns comentários que recebe por fazer uma personagem tão empoderada, aos 69 anos.
“Por que ela não pode ser safada e chamar o Humberto de gostoso? Eles transam e ela joga a calcinha de oncinha na cara dele. Ela usa decote e bota o peitão pra jogo o tempo todo. Ela usa um vocabulário que não é o mais culto, senta com a perna aberta. A Zoé é uma mulher daquela idade que age daquela forma desinibida.”, disse Regina Casé ao “Extra”.

Regina Casé sente o etarismo aos 69 anos em comentários das pessoas
Quem acompanha a carreira de Regina Casé, sabe que ela é bem-vinda em qualquer tipo de ambiente e pessoas. Mas, de acordo com a atriz, existe uma discriminação por conta de sua idade.
“Falam tanto que o lugar da mulher é onde ela quiser, mas, na verdade, estão dizendo que o lugar da mulher jovem é onde ela quiser”, afirmou, acrescentando sobre comentários que ouviu por desfilar na Sapucaí aos 69 anos:
“Desfilei em quatro escolas de samba do Rio este ano. No dia do meu aniversário, 25 de fevereiro, voltei para desfilar em três delas no Desfile das Campeãs. Todo mundo disse: ‘Como você consegue na sua idade?’. Por fazer esse tipo de coisa, viro uma heroína ou uma guerreira. Quase como se não pudesse estar ali. As pessoas também estranham ao me ver em lugares onde todo mundo é muito mais novo do que eu… Mas isso não é de hoje. Na época em que eu apresentava o ‘Esquenta’, comentavam as minhas atitudes de um jeito preconceituoso: ‘Por que essa mulher está dançando funk até o chão?’. Quando estou com o Douglas Silva e o Mumuzinho, por exemplo, adoro sair para dançar e falar baixaria com eles. São meus amigos”.
Atriz explica como é fazer uma personagem má e capacitista
Na pele da megera Zoé, Regina Casé, interpreta várias mulheres em uma e também é capacitista, como são chamadas as pessoas que possuem crenças limitantes a respeito de quem convive com alguma deficiência. A famosa acredita ser um dos trabalhos mais difíceis que já fez:
“O mais complicado para mim foi fazer uma vilã que não é só uma bruxa má o tempo todo. Consegui dar umas camadas para a Zoé. Ela mata uma pessoa logo no primeiro capítulo e mostra do que é capaz. Zoé é capacitista, mas acaba gostando de verdade da Maíra (Sophie Charlotte), se encanta com aquela menina cega que é tão legal e independente. É um negócio esquisito. A redenção da personagem veio logo no início. Ela começa a novela se desmontando. Como atriz, foi estranhíssimo fazer essas cenas. Claro que ninguém finge o tempo todo e nem é verdadeiro o tempo todo. Eu começava uma cena com o intuito de me aproveitar da Maíra, mas aí ela tocava no meu rosto e tudo mudava. As pessoas são complexas, né?”, questiona.

Regina Casé aposta na educação antirracista com filhos e neto
Na vida real, Regina Casé revela que também enfrenta o preconceito por ser mãe de uma mulher de 33 anos, a Benedita, e de um menino de 9, o Roque.
“A Benedita, minha filha, é PCD (ela tem deficiência auditiva), mas nunca foi uma coitadinha. Ela aparece sexy e beijando o marido na boca em capa de revista, por exemplo. Mas depois que tive um filho e um genro pretos, passei a me confrontar com outra face do preconceito. É um nível de violência enorme. Quando passei a ser mãe de um menino preto, é como se eu visse isso a cada segundo. Vivo num ambiente de pessoas brancas e privilegiadas, mesmo fazendo questão de estar sempre cercada de pessoas pretas”, explicou.
Por fim, Regina Casé explicou como combate o preconceito em seu dia a dia. A atriz aposta na criação antirracista que teve e transfere isso para as pessoas ao seu redor. “É a educação que dou aos meus filhos e ao meu neto é muito focada nisso. A Benedita também nunca foi criada numa bolha. Ela entende o Rio de Janeiro como um todo. Tem os amigos dela na Zona Sul, na Zona Norte, ela circula por toda a cidade e convive com vários tipos de pessoas”, completou.