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Apropriação cultural: o que é e por que precisamos falar sobre isso?

Você sabe o que é a apropriação cultural? Essa prática interfere na identidade original de um povo e tem relação com o capitalismo. Entenda!

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Apropriação cultural: o que é?

O que é apropriação cultural? De acordo com o dicionário etimológico, a palavra apropriação significa “apoderação, apoderamento, posse de alguma coisa, tornar alguma coisa sua, de sua propriedade”. Já por cultura entendemos como um conjunto de práticas, símbolos e valores que um povo compartilha entre si. Em outras palavras, quando se tiram ideias, símbolos, objetos, roupas, imagens e sons de seus contextos originais, é apropriação cultural. 

Por isso, usa-se o termo apropriação cultural quando a cultura de um povo sofre um processo de opressão e apoderação de seus elementos por outra cultura. Assim, perde-se a sua identidade original. A apropriação cultural é um assunto recorrente em debates voltados para o racismo e o contexto social e político.

“Quando você mata a cultura de um povo, você também mata o povo”

O antropólogo e doutor em Ciências Sociais Rodney William alega que estamos enfrentando uma era de genocídio cultural, no qual as pessoas deixam de se reconhecer enquanto um povo.

“Quando você mata a cultura de um povo, você também mata um povo (…) Temos que passar por um processo de reconstrução da nossa identidade e, felizmente, temos a memória coletiva preservada e os territórios de resistência. A partir disso, podemos reconstruir todos os nossos elementos culturais e reivindicar a autoria de muitos elementos que estão na cultura brasileira, mas as pessoas não têm a menor noção que vieram das civilizações indígenas e negras”, disse ele. Rodney também aponta a necessidade de fazer um resgate histórico para devolver, de fato, quem criou tal material. 

A apropriação cultural está diretamente ligada ao capitalismo

Pelo canal “Feminismos Plurais”, Djamilla Ribeiro deu exemplos de como identificar esse apoderamento. “Hoje temos várias peças de culturas africanas em museus europeus. Às vezes, está em uma questão muito individual e se perde essa dimensão estrutural. Essa apropriação histórica vem do colonialismo, de se apropriar de culturas indígenas e negras”, disse.

A filósofa acredita que a apropriação cultural, atualmente, está atrelada ao capitalismo. “A pessoa vai na loja, compra um pano que é da cultura do Marrocos, ela já comprou esvaziada de sentido. Mas essas corporações já fazem todo esse processo de esvaziar e de apropriação. Fazer essa discussão com colonialismo e capitalismo é fundamental”.

Apropriação cultural também está presente na moda

A apropriação cultural também está presente na indústria da moda. Donos de figuras e desenhos tão ricos, os povos indígenas do México já serviram de “inspiração” para grandes marcas internacionais sem ao menos levarem créditos. Foi o que aconteceu em 2020, com a grife Carolina Herrera. A marca foi acusada de apropriação cultural pelo governo mexicano ao lançar a coleção Resort com referências à alegria de viver e fazer uso indevido de elementos de povos indígenas.

Outro caso de apropriação cultural que repercutiu em 2019 foi com Kim Kardashian. Isso porque a empresária decidiu usar o nome “Kimono” para batizar sua marca de roupas modeladoras, o que gerou polêmica nas redes sociais. “Eu tomei a decisão de nomear minha empresa de Kimono, não para desassociar a palavra de suas raízes japonesas, mas como um aceno para a beleza e detalhes que entram em uma peça de roupa”. Pouco tempo depois, ela mudou para “Skims Solutionwear”. 

De acordo com Rodney William, também autor do livro “Apropriação Cultural”, primeiramente, é preciso resgatar uma série de elementos. Em seguida, reivindicar e fazer com que a indústria, no caso da moda, devolva aos povos originais aquilo que eles tomaram.

É preciso interferir nesse processo histórico

Em suma, é preciso acabar com a ideia de que falar sobre apropriação cultural é algo banal e ficarmos cada vez mais abertos ao diálogo, ouvir, tratar com seriedade, para evitar a reprodução desse tipo de atitude e o possivelmente apagamento de um povo. Dessa forma, são pessoas e vidas que não podem ser desvalorizadas e precisam retomar seu lugar social.

Foto de capa: Unsplash

Redação Corpo Livre

Somos uma equipe de profissionais e colaboradores empenhados em transformar através da informação e da diversidade. Enquanto veículo, queremos construir uma nova forma de dialogar na internet sobre Corpo Livre!

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