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Thiago Oliveira: Comportamento hétero na balada LGBT. Qual o maior medo?

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Comportamento hétero na balada LGBT: qual o maior medo?

“Eu ficarei intimidado naquele lugar”. Essa foi a frase que eu escutei de um homem hétero, numa roda de pessoas, minutos antes de irmos para uma balada LGBT. Primeiramente, antes que eu pensasse em falar alguma coisa, a minha namorada já estava questionando “os porquês” daquela pessoa. Na roda? Sim, havia um homem gay que também não se manifestou de primeira. Falamos sobre aquilo antes de sairmos, questionamos o motivo de um ambiente LGBTQIAPN+ ser “tão intimidador assim” e a resposta veio ensaboada.

Minha primeira vez numa balada LGBT

Posso falar? Eu, na minha adolescência, também já fui essa pessoa. Eu, em algum momento da vida, pensei que a balada LGBT pudesse ser um ambiente muito diferente dos lugares que um homem hétero frequentava. Sabe o pior? Eu estava certo!

Depois da minha primeira vez numa balada LGBT, entendi que aquele lugar poderia ser bem mais legal que os lugares que eu já havia frequentado. Mas essa visão não foi construída da noite para o dia. Ou seja, eu tive que querer saber mais, refazer minhas ideias, pensamentos e colocar a mudança de comportamento em prática. Mas porque muito homem hétero possui esse preconceito a esse universo? Por que muitos tem medo de serem desejados por homens gays? Por que homens héteros são homofóbicos?

Bem, a resposta poderia ser simplista no sentido de “a sociedade é estruturalmente machista e homofóbica, e as pessoas foram (des)educadas assim”. Ok, serviria como uma resposta. Isso nós já sabemos. Mas eu queria ser bem específico e discutir algo bem pontual: o medo é ser confundido com um homem gay? É não saber se portar com uma “investida gay” ou, talvez, ser assediado e ter que lidar com comportamentos inoportunos? Bom, se bem que nesse caso, isso poderia servir de escola para muitos “Shit Man” que existem por aí (mas isso também fica para um próximo texto).

Qual é o problema de ser “xavecado” por outro homem?

Qual é o problema de ser “xavecado” por outro homem? “Ah, mas o cara não percebeu que eu não sou gay?”. Não alecrim, não percebeu! Você, por acaso, pensa nisso quando tenta investir em alguma mulher na noite? Chegou a pensar que ela poderia ser lésbica? É claro que não, pois não temos a nossa orientação sexual estampada na nossa testa.

Sabe quando um homem, hétero, chega pra conversar com uma mulher e toma um fora? Então. Você, educadamente, pode fazer a mesma coisa quando um homem gay se aproximar de você numa balada LGBT – ou não. Simples assim. Não precisa “quebrar a cara dele” ou fazer um escândalo simplesmente porque uma pessoa demonstrou interesse por você.

As músicas na balada gay são tão mais legais…

A homofobia e o machismo estão vivos e pulsantes dentro de atitudes assim. Sabe porquê? Por que esses homens, que se dizem héteros, possuem total repulsa a tudo o que os podem relacionar ao feminino (e automaticamente ao mundo gay). Se o confundem com um homem gay, isso é ofensivo demais pra masculinidade frágil dele, pois ser gay é algo errado, menor, “feio”, algo que é motivo de revolta. Homofóbico!

Se, por algum motivo, os relaciona com algum comportamento feminino, nossa! Porque ser mulher também é algo menor, mais frágil, e de menor valor na sociedade. Machista! Pensem, quando um menino chora, qual é a primeira coisa que falam pra ele? “Engole esse choro, ou você é uma menininha/viadinho?!” Entendem? O choro do menino iria expor esse indivíduo à imagens menores, que nenhum “homem de verdade” gostaria de ser visto: como mulher ou homossexual.

Agora, entendem o porque aquele ambiente poderia ser intimidador? Nenhum macho quer ser comparado a figuras que, segundo ele, estariam em um nível inferior. Poxa, pobres héteros! Não sabem o que estão perdendo. As músicas na balada gay são tão mais legais.

Thiago Oliveira, colunista MCL
Thiago Oliveira

Paulista, 40 anos e especialista em Sexualidade Humana. Doutor em ecologia pela UFRGS, abandonou a carreira pra se tornar comediante Stand Up. Thiago Oliveira é também palestrante e roteirista. Criou o projeto “Homem Sem Tabu”, onde discute masculinidades, tabus, sexualidade, machismos e afins. Apresentou seu TEDx São Paulo em 2021 com o título “Os maiores tabus dos homens”.

Paulista, 40 anos e especialista em Sexualidade Humana. Doutor em ecologia pela UFRGS, abandonou a carreira pra se tornar comediante Stand Up. Thiago Oliveira é também palestrante e roteirista. Criou o projeto “Homem Sem Tabu”, onde discute masculinidades, tabus, sexualidade, machismos e afins. Apresentou seu TEDx São Paulo em 2021 com o título “Os maiores tabus dos homens”.

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